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     Aquele que crê possuir a verdade erra em não se preocupar em procurá-la.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Diário de um político corrupto

Safadolândia, 06 de dezembro de 2010.

Estimado, precioso e adorável Diário,

Você me conhece. Sabe que ando deveras ocupado e que, por isso, há tantos dias não o preencho com minhas indeléveis palavras.

Na verdade nem sei por que estou te dando tantas explicações… Creio ter esquecido que você não é um eleitor e que agradá-lo não vai me render nenhum tipo de benefício.

O final do ano está chegando e eu, merecidamente, curtirei meu recesso parlamentar com minha família em um resort tropical. Ano de reeleição é sempre mais cansativo. Com tantas acusações pesando sobre a minha nobre pessoa, com tantas provas contra mim, com tantos escândalos envolvendo meu nome, não foi fácil convencer o eleitorado de que eu merecia mais quatro anos.

Mas, para minha sorte e para sorte de todos os meus assessores, a maioria do povo brasileiro tem uma memória bem fraca e não é muito difícil persuadir a massa. Ainda mais quando a economia vai bem. Uma geladeira cheia, uma TV nova e um carro na garagem fazem milagres. Aí é só acrescentar palavras bonitas, material gráfico de qualidade, promessas absurdas, favores especiais, abraços e apertos de mão pelas ruas… Quer dizer, esse contato corpo a corpo não é tão simples… digamos que seja a parte podre da minha nobre profissão.

Perdi as contas de quanto álcool em gel eu gastei. A imprensa tem a mania de dizer que tenho as mãos sujas, mas acho que os jornalistas nunca viram de perto as mãos do povo. Credo!

Hoje trabalhei incansavelmente. Tive uma reunião de negócios importantíssima para o futuro … da minha conta bancária. Vou “colaborar” para que a empresa de um grande amigo ganhe uma licitação, mas foi difícil negociar minha influência. Depois de muita conversa, conseguimos chegar a um acordo bom para ambas as partes. Afinal, como já dizia o filósofo Corruptus Dinheristas, se ele ganha, eu ganho!

Além disso, fui convidado a trocar de partido, mas ainda estou em dúvida. O que o nobre diário acha? Atualmente faço parte do PPI (Partido dos Políticos Inescrupulosos), mas tenho recebido convites do PIP (Partido dos Interesses Pessoais). Penso que colocarei na balança todas as vantagens que levarei caso aceite a proposta e tomarei um decisão.

Hoje também minha mulher me entregou uma lista. Achei que fosse a lista de presentes de Natal, mas eram os nomes de todos os parentes que precisarei empregar no ano que vem. Nepotismo? Claro que não, amigo diário. É uma questão de confiança. Você confia em estranhos? Eu não.

Bem, agora vou dormir. O dia será cheio amanhã. Cheio de roubalheiras, cheio de propostas ilícitas, cheio de desvios de verba pública. Deitarei a cabeça no meu travesseiro de penas de ganso – pago com dinheiro do contribuinte – e terei o sono dos injustos.

E não se esqueça: se alguém instaurar uma CPI e chamá-lo para depôr, diga que não viu nada, não ouviu nada, não leu nada. Essas comissões normalmente são só para impressionar a opinião pública, mas é melhor não abusar da sorte. A menos que você não se importe de amanhecer com metade das suas folhas arrancadas.

Vote em mim! Ops, desculpe… é a força do hábito!

Cordialmente

Um político corrupto

 
Por: Lu Oliveira

OBS.: ESTA É UMA OBRA DE FICÇÃO. SE VOCÊ SE LEMBROU DE UM PREFEITO, UM SECRETÁRIO OU UM DIRETOR, EU NÃO TENHO NADA A VER COM ISSO.

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