É de impressionar o zelo e o custo com que o Ministério da Educação exerce a incompetência ao gerir o Enem. Convocada, a rapaziada compareceu a mais uma rodada do exame. Uma parte saiu da prova com uma questão irresolvida.
Coisa de múltipla escolha:
Letra A: O MEC faz muito mal todo o bem que faz aos estudantes.
Letra B: O MEC faz muito bem todo o mal que faz aos estudantes.
Letra C: Todas as alternativas alteriores.
A encrenca concentrou-se no sábado (6). A prova trazia questões repetidas. Faltavam-lhe outras questões. Na folha de teste, a sequência de perguntas era uma. No cartão de respostas, outra. Um espanto!
A encrenca ganhou a web. Tornou-se assunto instantâneo das redes sociais. O MEC foi ao incêndio munido de gasolina. A equipe do ministro Fernando Haddad (Educação) pendurou no twitter da pasta uma nota ameaçadora e deseducada: “Alunos que já ‘dançaram’ no Enem tentam tumultuar com msgs nas redes sociais. Estão sendo monitorados e acompanhados. Inep pode processá-los”.
A fogueira subiu. E o time do Inep desceu ao twitter. Dessa vez, munido de uma seringa de água: “Acompanhamento do twitter: monitoramento do Inep diz respeito a quem dizia utilizar celular durante a prova, e não aos comentários na rede”.
Em entrevista, o presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), Joaquim José Soares Neto, soou satisfeito. Para ele, o Enem-2010 foi “um sucesso”. Como assim? “É um processo complexo e, portanto, passível de falhas. Se houve equívocos, vamos apurá-los”.
O “sucesso” foi tamanho que a OAB aconselhou às felizes vítimas que batam à porta do Ministério Público. Como parte do êxito, o mandachuva do Inep informou que vai ao ar, na quarta (10), formulário virtual para a requisição de alunos que quiserem reordenar suas respostas.
De resto, o professor Soares Neto disse que pode ser oferecida aos felizardos a oportunidade de uma nova prova, a ser aplicada em dezembro. No início de 2009, o ministro Haddad anunciara uma bela novidade: o MEC ofereceria à estudantada a oportunidade de prestar dois exames por ano.
Com isso, seria reduzida a TPV (Tensão Pré-Vestibular). Era lorota marqueteira. As provas do ENEM foram furtadas, vazadas e adiadas.
Em 2010, nada de dois exames. O “sucesso” veio de uma única vez. Meses antes, o Inep já havia cavalgado outro lance esquisito. Descobriu-se que os dados pessoais de 12 milhões de estudantes, que o instituto deveria guardar em segredo, estavam ao alcance de um clique de mouse.
Na ocasião, o professor Soares Neto demonstrara o mesmo desapreço à autocrítica: o vazamento “não afeta de forma alguma a credibilidade do Inep”. De fato, nada parece afetar a “credibilidade” do MEC. Ali, a incompetência é exercida, por vezes, com a máxima competência.
Por Josias de Souza